domingo, 13 de março de 2011

CARTA AOS PAIS RUBEM ALVES

Também sou pai e portanto compreendo.Vocês querem o melhor para o filho, para a filha. A melhor escola, os melhores professores, os melhores colegas. Vocês querem que filhos e filhas fiquem bem preparados para a vida. A vida é dura e so sobrevivem os mais aptos. É preciso ter uma boa educação.
Compreendo, portanto, que vocês tenham torcido o nariz ao saber que a escola ia adotar uma política estranha: colocar crianças deficientes nas mesmas classes das crianças normais. Os seus narizes torcidos disseram o seguinte: Não gostamos. Não deveria ser assim! O problema começa com o fato de as crianças deficientes serem fisicamente diferentes das outras, chegando mesmo,por vezes, a ter uma aparência esquesita,.E isso cria, de saida, um mal- estar ...digamos...estético.Vê-las não é uma esperiência agradável. É preciso se acostumar...Para complicar há o fato de as crianças deficientes serem mais lerdas: elas aprendem devagar. As professoras vão ser forçadas a diminuir o ritmo do programa para que elas não fiquem para trás. E isso, evidentemente, trará prejuizos para nossos filhos e filhas, normais, bonitos,inteligentes. È preciso ser realista; a escola é uma maratona para se passar no vestibular. È para isso que elas existem. Quem fica para trás não entra... O certo mesmo seria ter escolas especializadas, separadas, onde os deficientes aprenderiam o que podem aprender, sem atrapalhar os outros.
É possível que na sua casa, num lugar de destaque, em meio ás peças de decoração, esteja um exemplar das Escrituras Sagradas. Via de regra a bíblia está lá por supertição. As pessoas acreditam que Deus vai proteger. Se assim fosse , melhor que seguro de vida seria levar uma bíblia sempre no bolso. Não sei se vocês a lêem. Deveriam. E sugiro um poema sombrio, triste e verdadeiro do livro de Eclesiastes. O autor, já velho, aconselha os moços a pensar na velhice.
Lembra-te do criador na tua mocidade, antes que cheguem os dias das dores e se aproximem os anos dos quais dirás: " Não tenho mais alegrias..." Antes que se escureça a luz do sol, da lua e das estrelas e voltem as nuvens depois da chuva... Antes que os guardas da casa comecem a tremer e os homens fortes a ficar curvados... Antes que as mós sejam poucas e parem de moer... Antes que a escuridão envolva os que olham pelas janelas... Antes que as pessoas se levantem com o canto dos pássaros... Antes que cessem todas as canções... Então se terá medo das alturas e se terá medo de andar nos caminhos planos... Quando a amendoeira florescer com suas flores brancas, quando um simples gafanhotos ficar pesado e as alcaparras não tiverem mais gosto...Antes que se rompa o fio de prata e se despedace a taça de ouro e se quebre o cântaro junto á fonte e se parta a roldana do poço e o pó volte á terra...Brumas, brumas,tudo são brumas...
(Eclesiastes 12: 1-18)

Os semitas eram poetas. Escreviam por meio de metáforas. Metáfora é uma palavra que sugere uma outra. Tudo o que está escrito nesse poema se refere a você, a mim, a todos. Antes que se escureça a luz do sol...sim,chegará o momento em que os seus olhos não verão como viam na mocidade . Os seus braços ficaram fracos e tremerão no seu corpo curvo. As mós - seus dentes-não mais moerão por serem poucos. E a cama pela manhã , tão gostosa no tempo da mocidade,ficará incômoda. Você se levantará tão cedo quanto os pássaros e terá medo de andar por não ver direito o caminho. È preciso ser prudente porque os velhos caem com facilidades por causa de suas pernas bambas e podem quebrar a cabeça do fêmur. Pode até ser que você venha precisar de uma bengala. Por acaso os moinhos pararão de moer? Não, os moinhos não param de moer, Mas você parará de ouvir. Você está surdo. Seu mundo ficará cada vez mais silencioso. E conversar ficará penoso. Você verá que todos estão rindo. Alguém disse uma coisa engraçada. Mas você não ouviu. Você rirá, não por ter achado graça, mas para que os outros não percebam que você está surdo. Você imaginou uma velhice gostosa. E até comprou um sítio com piscina e árvores. Ah! que coisa boa, os netos todos reunidos no "Sítio do Vovô", nos fins de semana! Esqueça. Os interesses dos netos são outros. Eles não gostam de conviver com deficientes. Poderiam ter aprendido na escola mas não aprenderam porque houve pais que protestaram contra a presença dos deficientes.
A primeira tarefa da educação é ensinar as crianças a serem elas mesmas. Isso é extremamente difícil. Fernando pessoa diz: Sou o intervalo entre o meu desejo e aquilo que os desejos dos outros fizeram de mim. Frequentemente as escolas esmagam os desejos das crianças com desejos dos outros que lhe são impostos. O programa da escola,aquela série de saberes que as professoras tentam essinar,representa os desejos de um outro, que não criança. Talvez um burocrata que pouco entende dos desejos das crianças. È preciso que as escolas ensinem as crianças a tomar consciência dos seus sonhos!
A segunda tarefa da educação é ensinar a conviver. A vida é convivência com uma fantástica variedades de seres, seres humanos, velhos, adultos, crianças, das mais variadas raças, das mais variadas culturas, das mais variadas línguas, animais, plantas, estrelas...Conviver é viver bem em meio a essa diversidade. E parte dessa diversidade são as pessoas portadoras de alguma deficiência ou diferença. Elas fazem parte do nosso mundo. Elas têm o direito de estar aqui. Elas têm direito á felicidade. Sugiro que vocês leiam um livrinho que escrevi para crianças, faz muito tempo: como nasceu a alegria. È sobre uma flor num jardim de flores maravilhosas que, ao desabrochar, teve uma de suas pétalas cortada por um espinho. Se o seu filho ou filha não aprender a conviver com a diferença,com os portadores de deficiência, e a ser seus companheiros e amigos, garanto-lhes: eles serão pessoas empobrecidas e vazias de sentimentos nobres. Assim, de que vale passar no vestibular?
Se os seus filhos não aprenderem a conviver numa boa com crianças e adolescentes portadores de deficiências eles não saberão conviver com vocês quando vocês ficarem deficientes.
Erileusa Gomes   1011442

A TIGELA DE MADEIRA ------- CLÁUDIO SETO

Um  senhor de idade foi morar com seu filho,nora e o netinho de quatro anos de idade.
As mãos do velho eram trêmulas,sua visão embaçada e seus passos vacilantes.
A família comia reunida á mesa. Mas, as mãos trêmulas e a visão falha do avô o atrapalhavam na hora de comer.
Ervilhas rolavam de sua colher e caíam no chão. Quando pegava o copo, leite era derramado na toalha de mesa. O filho e a nora irritaram-se com a bagunça.
--Precisamos tomar uma proviência com respeito ao papai- disse o filho.
-- Já tivemos suficiente leite derramado,barulho de gente comendo com a boca aberta e comida pelo chão. Então, eles decidiram colocar uma pequena mesa num cantinho da cozinha. Ali, o avô comia sozinho enquanto o restante da família fazia as refeições á mesa, com satisfação.
Desde que o velho quebrara um ou dois pratos, sua comida agora era servida numa tigela de madeira.
Quando a família olhava para o avô sentado ali sozinho,ás vezes ele tinha lágrimas em seus olhos. Mesmo assim,as únucas palavras que lhe diziam eram admoestações ásperas quando ele deixava um talher ou comida cair no chão.
O menino de 4 anos de idade assistia a tudo em silêncio.
Uma noite,antes do jantar, o pai percebeu que o filho pequeno estava no chão, manuseando pedaços de madeira.
Ele  perguntou delicadamente a criança:
- O que você está fazendo?
O menino respondeu docemente:
- Oh, estou fazendo uma tigela para você e mamãe comerem, quando eu crescer.
O garoto de quatro anos de idade sorriu e voltou ao trabalho.
Aquelas palavras tiveram um impacto tão grande nos pais que eles ficaram mudos.
Então lágrimas começaram a escorrer de seus olhos.
Embora nimguém tivesse falado nada, ambos sabiam o que precisava ser feito.
Naquela noite o pai tomnou o avô pelas mãos e gentilmente conduziu-o á mesa da família.
E por alguma razão, o marido e a esposa não se importavam mais quando um garfo caía, leite era derramado ou a toalha da mesa sujava.
Erileusa Gomes  1011442